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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não nascemos prontos




Hoje, enquanto tentava decidir o que postar, encontrei esse texto guardado nos meus arquivos e achei-o perfeito. Sinceramente? Que bom que não nascemos prontos e, quer saber do que mais? Concordo com o Mário Sérgio, hoje sou a nova versão de mim mesma, a velha Ana Lúcia ficou lá atrás.Sou muito melhor agora.
Leiam, vale a pena.

NãO NASCEMOS PRONTOS!
>
> POR MARIO SERGIO CORTELLA :: EM 07 DE JANEIRO DE 2007
>
> O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: "o animal satisfeito
> dorme". Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos
> alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na
> redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão
> bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital
> toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as
> coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se
> na acomodação.
>
> A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui,
> encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade,
> para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A
> satisfação acalma, limita, amortece.
>
> Por isso, quando alguém diz "fiquei muito satisfeito com você" ou
> "estou muito satisfeita com teu trabalho", é assustador. O que se
> quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto
> atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada
> mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria
> apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta. Ora, o
> agradável é quando alguém diz: "teu trabalho (ou carinho, ou comida,
> ou aula, ou texto, ou música etc.) é com, fiquei muito insatisfeito
> e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras
> coisa".
>
> Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos
> insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto
> passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é
> aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado
> no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma
> boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia, não é
> aquela que queremos que se prolongue?
>
> Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal
> de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar
> satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao
> possível da condição do momento.
>
> Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão
> provocada por algum desafio. que exigia esforço (estudar, treinar,
> emagrecer etc.) ficávamos preocupados e irritados, sonhando e
> pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as
> coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos
> sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só
> reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso
alguma
> dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o
> ambicioso quer mais e melhor, enquanto o ganancioso quer só para si
> próprio.
>
> Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e,
> nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce
> pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado;
> aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de
> situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
>
> Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma
> pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto
> mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se
> gastando...
>
> Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira.
> Gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou
> a minha mais nova edição (revista, e, às vezes, um pouco ampliada); o
> mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não
> no presente.
>
> Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo
> Guimarães, "não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que
> o escuro é claro"...
>

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo, lindo e totalmente certo!!!!!
Mesmo que, às vezes, eu ainda pense que gostaria de nascer sabendo isso ou aquilo. suahushaushaushausa